quarta-feira, fevereiro 27, 2008

"... liberdade pra escolher a cor da embalagem"

Depois de uma semana anotando as aulas em bloquinhos que acabam perdidos mesmo, decidi comprar um caderno. Horas pra escolher. Mais outras coisinhas. Fila. Minha vez.

- Cartão, tá moço?
- Certo, senhorita. - e vai jogando cada coisa numa sacola.
- Nãão, moço, precisa não!
- Como não precisa? Claro que precisa. Tá pensando em levar onde?
- Ah moço, brigada, mas eu levo na bolsa. - e sorrio pra ele.
- Tá pensando em colocar TUDO na bolsa? - desconfiado e eu num sei de quê até hoje.
- É, moço, na bolsa. - mostrando que cabia na minha bolsa.
- Hmmm... mas o caderno...
- O caderno também... É que sacola plástica eu evito, sabe? Polui demais, muitas vezes, é um gasto desnecessário, como agora que eu nem preciso, tá vendo? Se fossem biodegradáveis...bom, enfim moço, obrigada tá?
E ele ficou lá com cara desconfiada e me achando uma louca, muito provavelmente.

~


Quinze minutos pro início do filme, corri numa loja pra pegar uma barra de chocolate de companhia na gelada sala do cinema.

- Só isso?
- É sim, moço.
Entrego o dinheiro e ele vai logo pegando uma sacola plástica pra jogar meu chocolate.
- Nããão, não precisa não, tá?
Ele olha pro meu rosto e dá um sorriso.
- Cê veio aqui essa semana num veio?
Só consegui dar uma risada. Ele tava num tom que parecia que tinha reencontrado a moça da 'pegadinha'.
- Foi, moço, eu mesma.
- A da sacola, né? Ai ai, senhorita, é cada uma. E aí, colocar o chocolate na bolsa hoje?
- Exatamente! Sempre que possível, né... evitar o desperdício. - e dei um risinho.



Depois dizem que é fácil ser ecologicamente correta.
É cada uma que se escuta, mas eu ainda me divirto absurdos.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

"quem sabe o que é ter e perder alguém..."

Eu já tive uma grande amiga. Possivelmente, a maior de todas até hoje.
E nós tínhamos uma relação tão fantástica, tão mágica, que se eu mesma não fizesse parte daquilo, talvez não acreditasse em coisas como a nossa transmissão de pensamento.
Hoje, apesar de tudo que sonhamos e passamos, já não andamos mais juntas, não somos mais inseparáveis. E grande parte da culpa é minha e do meu tão conhecido egoísmo.
Eu nunca fui o tipo de criança que depois de ganhar brinquedos novos, deixava os antigos de lado.
Mas nessa situação foi assim que agi. Quando descobri que o mundo podia ser maior do que os meus olhos podiam avistar, desleixei da minha companheira justo quando ela mais precisou do meu apoio. Pior ainda foi nem ter me dado conta das suas necessidades.
Logo ela que (de nós duas) sempre foi a parte mais forte e preparada pra qualquer baque, estava desabando e eu não estava lá.
Embora este não tenha sido o motivo único pro nosso distanciamento, afinal, o tempo pode aproximar muito as coisas, mas também proporciona um desgaste assustador (LÓGICO!).
Também tínhamos nossas buscas particulares e, assim, fomos nos desvencilhando e acabando com aquela dependência toda.
Hoje as coisas estão assim, o que não impede que aquele futuro que nós imaginamos juntas não possa acontecer. Tudo é possível e me utilizando de uma frase do García Márquez, "A vida, mais do que a morte, é que não tem limites ".
É isso e cada dia que passa, percebo que as coisas podem dar certo sem ter que necessariamente seguir o plano traçado pra elas.
Diferente e inesperadamente, tudo pode acontecer.

domingo, fevereiro 17, 2008

"Todo carnaval tem seu fim..."

É, mesmo que se tente prolongar alguns dias, em algum momento, o fim tem que acontecer.
Mas dessa vez não precisou ser triste. Afinal, foi tão bom...
por que estragar tudo com torturantes ilusões sobre o que mais poderia ter acontecido?
"Poderia não ter sido nada, mas foi tudo isso." - foi mais ou menos assim a frase que ouvi e me fez compreender que, às vezes, fugir da rotina, do planejamento das coisas e da produção neurótica de expectativas, pode dar num caminho ainda melhor que o imaginado.
É, nem sempre a Lei de Murphy impera e eu preciso ser a garotinha Sem Sorte, como diz o endereço do blog.
Pode ser que apareça algum estranho no caminho e te faça ver o mundo com outros olhos ou que te sequestre por alguns momentos da vida real para mostrar a beleza que a pressa e a rotina não nos deixam ver.
Pode ser que, no fim das contas, alguns estranhos tornem-se pessoas mais próximas do que se pôde supor e você tenha feito amigos de verdade.



"If you believe in love at first sight, you never stop looking" - Closer.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

"A vida é tão rara..."

Ela poderia passar horas e horas deitada sobre o ombro dele que nem sentiria o tempo passar. A imaginação voava por entre fatos sérios e idéias absurdas.
Até dava pra ouvir o sorriso dela se formando no rosto. E ele ouviu, exatamente no momento em que ela pensava nisso. Quis descobrir o motivo, o que passava na cabeça dela, mas era inútil tentar explicar. Não eram apenas os pensamentos que causaram aquele sorriso, mas todos os últimos acontecimentos que surgiam feito filme na sua mente.
Estava junto de quem desejava e sentia-se feliz por compartilhar aqueles momentos com alguém tão especial e (incrivelmente) real.
Ela havia chegado ali não querendo nada, desejando muito, mas apenas esperando que como por milagre algo acontecesse.
E aconteceu.
Ele a surpreendia a cada minuto.
Entre dengos e palavras, deixava escapar um ar preocupado e a alertava para ter cuidado com o "depois de tudo aquilo".
Mas isso não a interessava. Ela só queria sentir tudo, como se pulasse de uma montanha sem saber exatamente como iria ser quando alcançasse o chão, desejando apenas sentir o vento no rosto, esvoaçando os cabelos e dando-lhe alguma noção de liberdade, ainda que momentânea.
Depois da queda, obviamente sentiria alguma dor, alguns dias seria mais intensa, noutros mais aliviada, ainda ficariam marcas para que ela não esquecesse que em alguns momentos... viveu.

domingo, fevereiro 03, 2008

"E no meio de tanta gente eu encontrei você..."

No meio da multidão, uma garota desconectada com o mundo ao redor até que uma conversa, no mínimo curiosa, chama sua atenção. Algo sobre a semelhança da cultura de alguns estados nordestinos.
Havia muita convicção nas palavras daqueles dois rapazes, ela não conseguia apenas ouvir, precisava olhar o rosto daquelas pessoas que pareciam conversar como se estivessem em outro plano ou dimensão que não aquele. Olhou fixo e eles repararam nela. Envergonhou-se de parecer intrometida e deu-lhes um breve sorriso. Um deles resolveu estabelecer algum contato com a moça solitária, talvez por achar que havia incomodado-a e comentou com o amigo, desta vez, para que ela ouvisse.
- Acho que ela deve ser do Rio Grande do Norte e não gostou dos nossos comentários.
Ela balançou a cabeça negativamente e o outro, de sorriso mais fácil, prosseguiu.
- Ou deve ser pernambucana mesmo, bairrista e está adorando - novamente ela negou.
- Ou paulista.... - e resolveu desistir e esperar que ela mesma respondesse.
A garota virou-se para eles e respondeu de onde era, mas não quis calar-se, queria mais e prosseguiu comentando o assunto deles. Então envergonhou-se de entrar tão rapidamente na conversa alheia e encerrou seus comentários.
Algum tempo depois, as pessoas começaram uma roda para dançar um som típico do local e os dois rapazes puxaram a moça tímida para fazer parte da brincadeira. Ela se divertiu participando e gostou ainda mais de ter sido convidada por aqueles desconhecidos, por não ter parecido tão invasiva no noutro momento.
Terminada a dança, eles continuaram conversando e logo as afinidades foram surgindo e encantando-a. Encantando de verdade e ela percebeu o quanto tinha sorte de conhecer aquelas pessoas em um local tão improvável. Idéias, comentários, gostos.
Ela não queria que aquele momento acabasse, não era sempre que se deparava com pessoas de espírito tão leve e adocicado.
Mas o fim sempre chega. Trocaram telefones e ela teve de partir. Foi sem vontade alguma, por pura obrigação, mas sentindo-se feliz pelo presente descoberto.
Apesar de acompanhada de várias pessoas, fez questão de caminhar sozinha observando a magnífica arquitetura que aquela cidade mantinha e como uma ponte poderia significar mais que um instrumento para o homem se locomover acima das águas.
Viu o amanhecer e agradeceu por aquele dia.